Por que Envelhecemos e Morremos? Biólogo Molecular Venki Ramakrishnan Explora a Ciência do Envelhecimento
O biólogo molecular indiano Venki Ramakrishnan, renomado cientista que recebeu o Prêmio Nobel de Química em 2009 por suas pesquisas sobre ribossomos, a estrutura celular responsável pela produção de proteínas, discute questões fundamentais sobre o envelhecimento e a busca pela imortalidade em seu próximo livro “Why We Die: The New Science of Aging and The Quest for Immortality” (“Por que Morremos: A Nova Ciência do Envelhecimento e a Busca pela Imortalidade”), a ser lançado em março.
Em uma entrevista à BBC News Mundo, Ramakrishnan aborda os processos biológicos subjacentes ao envelhecimento. Destaca que o acúmulo de danos nos genes do DNA, responsáveis pela produção de proteínas essenciais à vida, desempenha um papel crucial nesse processo. O envelhecimento é visto como a perda da capacidade do corpo de regular a produção e destruição de proteínas nas células, resultando em danos químicos progressivos em moléculas, células e tecidos.
Quando questionado sobre o envelhecimento sob a perspectiva evolutiva, Ramakrishnan explica que a evolução está mais preocupada com a transmissão de genes do que com a longevidade individual. A capacidade de crescer, procriar e garantir que a prole atinja a idade reprodutiva é o foco evolutivo. Portanto, o envelhecimento não é uma prioridade da evolução, e os organismos evoluíram para investir mais na reprodução do que na prevenção do envelhecimento.
Sobre a expectativa de vida humana, Ramakrishnan destaca que, com o conhecimento atual, 120 anos é o tempo mais longo que poderíamos viver razoavelmente. Ele enfatiza que mesmo eliminando doenças como o câncer, isso aumentaria apenas a expectativa média de vida em alguns anos. A ideia de viver até 150 anos, segundo ele, é otimista demais.
Quanto à percepção do envelhecimento como uma doença, Ramakrishnan destaca que muitas doenças, como câncer, demência e doenças cardíacas, estão relacionadas à idade. No entanto, ele menciona que a Organização Mundial da Saúde (OMS) recentemente declarou que o envelhecimento não é uma doença, apesar da pressão na comunidade científica.
Sobre os avanços nos tratamentos antienvelhecimento, Ramakrishnan menciona abordagens como restrição calórica, medicamentos como a rapamicina, parabiose (transfusão de sangue de um animal jovem para um mais velho) e a eliminação seletiva de células senescentes. Ele destaca que, atualmente, há mais ficção científica do que realidade nessas áreas.
Finalmente, Ramakrishnan ressalta a importância de hábitos de vida saudáveis, como uma dieta equilibrada, sono adequado e exercício, como formas eficazes de retardar o envelhecimento. Ele destaca que essas práticas têm uma base biológica sólida e são mais eficazes do que muitos medicamentos antienvelhecimento no mercado. No entanto, reconhece o desafio de implementar essas mudanças de estilo de vida em uma sociedade que muitas vezes busca soluções rápidas.
A entrevista conclui com a reflexão sobre a frase “não importa quantos anos você vive, mas sim a vida que você teve nesses anos”, destacando a importância de ter um propósito na vida e tirar o máximo proveito dela. Ramakrishnan reconhece o paradoxo entre o desejo individual de viver mais e as consequências sociais e ambientais dessas decisões.
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