- Author, Isabelle Gerretsen
- Role, BBC Future
Essas partículas minúsculas de material antropogênico já foram encontradas no gelo do Oceano Antártico, dentro do intestino de animais marinhos que habitam os locais mais profundos dos oceanos e na água potável de todo o mundo.
Agora, um novo estudo concluiu que a água engarrafada pode conter até 100 vezes mais pedaços minúsculos de plástico que o estimado anteriormente.
Um litro de água engarrafada contém, em média, quase 250 mil fragmentos de nanoplástico, segundo um estudo realizado por pesquisadores das universidades Columbia e Rutgers, nos Estados Unidos.
Os pesquisadores analisaram cinco amostras de três marcas comuns de água engarrafada. Eles descobriram que os níveis de nanoplástico variam de 110 mil a 400 mil fragmentos por litro. A média é de 240 mil fragmentos.
Os cientistas afirmam que grande parte do plástico parece vir da própria garrafa. E não se sabe se a ingestão de plástico representa riscos mais sérios à saúde.
Uma análise das evidências científicas disponíveis realizada pela Organização Mundial da Saúde em 2019 e 2020 concluiu que ainda havia muito poucas pesquisas para determinar se o consumo ou a inalação de microplásticos representa risco à saúde humana.
Mas a OMS alertou que os fragmentos menores – com menos de 10 micrômetros – provavelmente são absorvidos biologicamente. A organização também pediu a redução da poluição por plástico, para diminuir a exposição humana.
Mas é realmente possível evitar os microplásticos?
Os microplásticos estão nos alimentos
O plástico não é onipresente apenas na água. Ele também está disseminado nas terras agrícolas e pode chegar aos alimentos que consumimos.
Um estudo de 2022 demonstrou que lodo de esgoto, usado como fertilizante agrícola, contaminou quase 81 mil quilômetros quadrados de terras agrícolas nos Estados Unidos.
Esse lodo contém microplásticos e os compostos perfluoroalquila e polifluoroalquila (PFAS, na sigla em inglês), que também são conhecidos como “produtos químicos eternos“.
Um estudo da Universidade de Cardiff, no Reino Unido, concluiu que 86 a 710 trilhões de partículas de microplásticos contaminam terras agrícolas na Europa todos os anos.
Isso significa que, podemos estar ingerindo involuntariamente minúsculos fragmentos de plástico em cada garfada da nossa alimentação. Mas algumas plantas parecem absorver os microplásticos mais do que outras.
Estudos parecem indicar, por exemplo, que o plástico tende a se acumular nas raízes das plantas. Isso significa que vegetais folhosos, como a alface, podem ter concentrações de plástico menores do que cenouras, nabos e rabanetes.
Embora os efeitos da ingestão de microplásticos à saúde ainda não tenham sido claramente determinados, já se descobriu que eles chegam até o fluxo sanguíneo humano.
O plástico biodegradável pode ajudar?
As várias iniciativas contra o uso de plásticos descartáveis fizeram com que muitas empresas procurassem adotar alternativas consideradas compostáveis ou biodegradáveis. Mas, em alguns casos, essas alternativas podem estar agravando a crise do microplástico.
Cientistas da Universidade de Plymouth, no Reino Unido, concluíram que sacos plásticos marcados como “biodegradáveis” podem levar anos para se desintegrar. E, ainda assim, eles se decompõem principalmente em pedaços menores, não nas substâncias que os compõem.
E as garrafas de vidro?
Eliminar as embalagens plásticas pode ajudar a reduzir a exposição ao material. Afinal, a água da torneira contém níveis menores de microplásticos do que a água em garrafas de plástico.
Mas essa substituição também traria outras consequências ambientais.
As garrafas de vidro possuem alta taxa de reciclagem, mas sua pegada ambiental é superior à do plástico e de outras embalagens usadas para líquidos, como caixas de papelão e latas de alumínio.
Isso se deve à mineração da sílica, matéria-prima do vidro, que pode causar danos significativos ao meio ambiente, incluindo a deterioração de terrenos e perda de biodiversidade.
E, mesmo com os recipientes feitos de outros materiais, é difícil escapar totalmente dos microplásticos.
Estudos conduzidos por Sherri Mason, da Universidade Estadual da Pensilvânia, nos Estados Unidos, concluíram que os microplásticos não estão presentes apenas na água da torneira, oriundos principalmente das fibras das nossas roupas. Eles também são encontrados no sal marinho e na cerveja.
Existe algo que possa ser feito?
Pesquisadores estão desenvolvendo uma série de técnicas para tentar eliminar a poluição causada pelo plástico no nosso meio ambiente.
Uma possibilidade é procurar fungos e bactérias que se alimentem de plástico e decomponham o material durante o processo. E há também os insetos – uma espécie de larva de besouro que pode se alimentar de poliestireno é outra possível solução.
Outros pesquisadores estão examinando técnicas de filtragem de água e tratamentos químicos que possam remover o microplástico. E até o uso de ímãs está sendo estudado para combater o problema.
Com todos esses estudos, podemos dizer que, felizmente, ainda há esperança.