O grupo de 34 brasileiros e seus familiares palestinos que está na Faixa de Gaza tem a expectativa de poder deixar o território nesta sexta-feira (10/11), um mês depois dos ataques do Hamas a Israel.
A inclusão do Brasil na lista dos países autorizados a repatriar seus cidadãos foi confirmada pelo Itamaraty na quinta-feira (9/11).
No entanto, em vídeo enviado à BBC News Brasil em frente à passagem de Rafah, que liga Gaza ao Egito, o brasileiro Hasan Rabee afirmou que, por enquanto, o grupo não foi autorizado a sair.
“Até este momento, vai fazer 12h (7h de Brasília), as fronteiras estão fechadas”, diz ele.
Segundo ele, isso só vai ocorrer depois que ambulâncias com feridos cruzarem a fronteira primeiro.
Rabee, que nasceu em Gaza, mas tem cidadania brasileira, estava no Oriente Médio para visitar familiares.
Israel quer se assegurar de que não há combatentes do Hamas entre os feridos e, portanto, tem realizado checagens de segurança.
No X (anteriormente conhecido como Twitter), a conta oficial do Ministério das Relações Exteriores brasileiro informou que “o ministro Mauro Vieira manteve esta tarde contato telefônico com o ministro das Relações Exteriores de Israel, Eli Cohen. Foi o quarto contato entre eles para tratar da situação dos brasileiros retidos em Gaza”.
“Cohen afirmou não ter sido possível cumprir a garantia dada por ele de que os brasileiros sairiam ontem, 8/11, por fechamentos inesperados na fronteira. Assegurou a Vieira que brasileiros e familiares estarão na lista de estrangeiros autorizados a cruzar a fronteira amanhã (sexta-feira)”, acrescentou.
O grupo de brasileiros e seus familiares estava dividido entre duas cidades palestinas: 18 na cidade fronteiriça de Rafah, que liga a Faixa de Gaza ao Egito; e 16 em Khan Yunis, perto da mesma fronteira. Mas todos já se deslocaram para as proximidades da fronteira.
Após deixaram Gaza, eles seguem até o Cairo, capital do Egito, de onde embarcam em um avião da FAB (Força Aérea Brasileira) rumo ao Brasil, com escalas em Roma, na Itália; Las Palmas, na Espanha; e Recife.
Há a expectativa de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) os receba na Base Aérea de Brasília no domingo (12/11), quando se completa um mês da chegada do primeiro grupo de repatriados vindo de Israel.
Polêmica
O grupo ficou de fora das sete primeiras listas de estrangeiros autorizados a deixar o território palestino — até agora, centenas já cruzaram a fronteira, entre 300 a 600 por dia.
A demora para a liberação dos brasileiros acabou estremecendo as relações entre Brasil e Israel.
A tensão entre os dois países foi intensificada por outros episódios recentes, como o encontro entre o embaixador do país no Brasil, Daniel Zonshine, com parlamentares de oposição e com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), e as declarações de autoridades israelenses sobre uma operação da Polícia Federal que prendeu dois brasileiros suspeitos de fazerem parte do Hezbollah e planejarem uma série de ataques no Brasil.
Nas redes sociais, perfis bolsonaristas vêm politizando a liberação dos brasileiros em Gaza, atribuindo o feito a Bolsonaro, que afirmou ter feito um pedido ao governo de Benjamin Netanyahu para permitir a saída dos nacionais.
Em 7 de outubro, combatentes do Hamas fizeram um ataque surpresa contra Israel, matando 1,4 mil pessoas e fazendo outras 200 reféns, segundo autoridades israelenses.
Israel lançou, em retaliação, uma campanha militar em Gaza que já matou mais de 10,8 mil pessoas, sendo mais de 4,4 mil crianças, segundo o Ministério da Saúde controlado pelo Hamas.
Desde então, o governo brasileiro emitiu notas condenando os ataques e tentou viabilizar uma resolução no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) que previa um cessar-fogo.
A resolução, no entanto, não foi aprovada.
Pausas militares
Os EUA afirmaram que Israel começará a implementar pausas militares de quatro horas em áreas do norte de Gaza todos os dias para permitir a fuga de civis.
Os militares israelenses dizem que haverá “pausas táticas e locais para ajuda humanitária”, mas “nenhum cessar-fogo”.
Enquanto isso, o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, afirmou que Israel realizou ataques aéreos em pelo menos três hospitais ou nas suas proximidades.